É comum alguém procurar a Terapia de Vidas Passadas (TVP) devido à uma questão que ocorre em sua vida de forma inexplicável. Reações, compulsões, pânicos específicos e outras situações que não puderam ter uma origem identificada na vida atual. Outros buscam a TVP por já terem esgotado suas possibilidades de cura em processos convencionais e o problema continuar a persistir.


Para ajudar a definir alguns conceitos sobre Vidas Passadas, segue um texto resumido de um dos meus mestres de TVP, Roger Woolger (www.woolger.com.br)


"Aquele que morre antes de morrer, não morre ao morrer."
Abraham de Santa Clara


Morte, Transição e os Espaços Espirituais:
Aprendizagens da Terapia de Vidas Passadas e do Budismo Tibetano


Nos últimos tempos temos nos encontrado com um renovado interesse pelas formas de se abordar a morte, a transição e, principalmente, o renascimento. Nos hospitais, o trabalho de Elizabeth Kübler-Ross e o "Movimento dos Asilos" humanizaram a experiência da morte. Nos Estados Unidos, os notáveis textos de Raymond Moody e Kenneth Ring, sobre experiências de quase morte, são amplamente conhecidos e, de muitas formas, mudaram a consciência do que a morte e a transição possam de fato ser.


Para ampliar este quadro, há também alguns trabalhos extremamente valiosos de professores Budistas no ocidente, como Sogyal Rinpoche, sobre a transição da morte. Seu comentário no Livro Tibetano do Viver e do Morrer é uma magnífica amplificação moderna do material simbólico arcaico do famoso Livro Tibetano dos Mortos, que tanto fascinou Jung. Além disso, nossa crescente apreciação do fenômeno da jornada xamânica levou à discussão tanto das experiências de quase morte, quanto da experiência da morte em si como um tipo de "saída do corpo" ou outros tipos de experiências. O antropólogo alemão Holger Kahlweit afirmou em seu livro Tempo de sonhar e espaço interior (Dreamtime and Innerspace): "No que me diz respeito, uma experiência de saída de corpo é idêntica a uma experiência de quase morte." Minhas próprias descobertas, oriundas da terapia regressiva à vidas passadas, estão de pleno acordo e, de fato, agregam uma enorme soma de detalhes aos estudos xamânicos e tibetanos. É isto que quero esboçar a seguir.


Quando examinamos a literatura de experiências de quase morte observamos um quadro que revela uma série de estágios. No primeiro estágio, alguém que teve uma morte clínica num acidente de carro ou numa mesa de operação, geralmente vê-se fora do corpo, como um espectador olhando uma cena de um ponto elevado favorável. As pessoas comumente relatam viajar através da escuridão, do espaço sideral, de um vazio e, em geral, de um túnel. Quando elas vão para esse outro espaço se encontram com a figura - como uma presença - de parentes e, algumas vezes, figuras angelicais ou divinas. Nesse estado elevado, nesse outro lugar, elas se vêem olhando para todos os feitos de suas vidas, muito parecido com o clichê do homem que se afoga e cuja vida lampeja diante de si. Parte da experiência no outro lado é uma imersão na sensação de luz e amor. Todos os tipos de compreensão profunda de experiências emocionais se fundem; há um profundo sentimento de bem estar e qualquer medo da morte (ou dor) que tinham anteriormente se dissolve.


Trabalhei com várias pessoas que morreram clinicamente nesta vida e depois voltaram para a terra. Elas normalmente o recordam como uma decisão, e, geralmente, o elemento comum é que, no estado fora do corpo, lhes são mostrados os seres aos quais estão conectados. São-lhes mostrados, então, os ancestrais ou espíritos dos membros da família que já morreram e lhes é pedido que façam uma escolha com quem gostariam de ficar.


Quando indivíduos clinicamente mortos decidem voltar ao corpo, suas atitudes para com a vida e para com a morte mudam radicalmente e para sempre. Em geral eles expressam uma fé muito mais profunda e tornam-se muito mais receptivos e amorosos; eles sentem a vida com maior profundidade, de forma nunca antes sentida. O retorno não é sempre alegre, às vezes é doloroso. Por vezes eles voltam relutantemente, fizeram uma escolha e, no entanto, o ajustamento levou, em alguns casos, muitos anos para ser feito. O ponto de vista tibetano é que este reino após a morte (ao qual chamam de um bardo, um espaço entre vidas) é real.


Eles ensinam que quando o espírito deixa o corpo ele fica um tempo nesse reino intermediário e passa por uma série de experiências que tem a ver, em parte, com o desligamento da vida que passou e, em parte prepara-o para deixar inteiramente o plano terrestre. Mais comumente ele se depara com seres, entidades, energias que são problemáticas e que, sob muitas formas, espelham os problemas psicológicos inacabados da pessoa que morreu. A menos que a consciência do momento da morte possa assimilar ou, de alguma forma, entrar em contato com essas difíceis forças que são encontradas, eles renascerão e serão enviados de volta a terra. O que é extraordinário nos escritos tibetanos é a forma como é tratada a consciência após a morte, uma consciência plenamente humana, em essência nada diferente do que era quando estava na terra, no corpo. Sogyal Rinpoche faz o notável comentário que: "O budismo tibetano deixou-nos o ainda revolucionário insight de que o nascimento e a morte estão ambos na mente e em nenhum outro lugar".


O nascimento e a morte fazem parte de um profundo ciclo contínuo. À medida que o feto se aproxima do momento do nascimento e a compressão que ocorre no útero se intensifica, memórias escuras e dolorosas de mortes violentas, desmembramento, crucificação, queimadura, esmagamento - todos os tipos de horríveis memórias de morte - são estimuladas. O próprio canal de nascimento é uma imagem espelho do túnel que a alma atravessa quando ela deixa o corpo. A volta ao corpo é, por sua vez, um túnel reverso, por sinal um doloroso túnel. No meu livro, "As várias vidas da alma", sugiro que atravessamos um tipo de circuito completo. A forma como voltamos é, geralmente, um espelho de como morremos em vidas anteriores. Usando um exemplo mais simples: uma pessoa que nasce com o cordão umbilical ao redor do pescoço pode se lembrar espontaneamente, na regressão, como foi enforcada em uma vida anterior.


A terapia de vidas passadas é uma terapia baseada no trauma, na qual buscamos traumas em outras vidas que possam ter causado bloqueios e, sendo assim, gerado algum tipo de complexo. As fobias, por exemplo, são oriundas de medos residuais de certas situações físicas perigosas em vidas passadas. O medo de facas, medo de fogo, medo de espaços fechados, medo do isolamento e o medo do abandono - todos podem estar ligados à memórias de vidas passadas. Nosso medo de fogo pode ter a ver com ter sido queimado até morrer. Nosso medo de facas pode estar relacionado com ter sido cortado de alguma forma, como por exemplo ter sido atacado em uma batalha, ferido numa luta ou em outra situação. Medos de fracasso podem ligar-se a tempos em que ocupamos posições de responsabilidade e desapontamos as pessoas.


Alguns anos atrás, seguindo uma dica importante do Livro Tibetano dos Mortos, comecei a fazer o trabalho de regressão buscando cuidadosamente o que as pessoas estavam passando no momento em que morriam numa vida passada. Descobri que a experiência da morte e a forma como as pessoas ficavam presas à morte, ou como morriam com pensamentos de desespero, tinha muito a ver com suas atitudes nas vidas atuais.


Pensamentos típicos que surgiram de regressões no momento da morte incluem: "eles não me queriam"; "eles me abandonaram" - estas são crianças que foram deixadas e morreram abandonadas, perdidas em algum tipo de ataque etc. "Tive que me virar sozinho/a" - dizem as pessoas que foram abandonadas para lutar ou morrer sozinhas. Pessoas que morreram de fome dizem que não havia o bastante, nunca havia o bastante. Pessoas que foram mortas por expressarem o que pensavam ou por dizerem o que não deviam: "eu devia ter ficado quieta"; "eu não devia ter falado". Outros sentem-se culpados: "eu poderia ter feito mais"; "é tudo minha culpa"; "eu não fiz o suficiente". Pensamentos de vingança incluem: "eu me vingarei deles". Pode haver pensamentos negativos sobre si mesmo: "eu não tenho jeito"; "não adianta"; "sou horrível"; ou "nunca serei capaz de fazer isso novamente"; "nunca caminharei de novo"; "estou preso"; "nunca sairei dessa". Seguindo pensamentos de traição alguns dizem: "não é seguro expressar o que eu realmente sinto"; "as pessoas me decepcionarão", "não tem sentido". Tais pensamentos surgem em sessões de vidas passadas nas quais as pessoas se lembram de haver morrido em desespero ou em situações desesperançadas.


Quando a consciência deixa o corpo físico, na morte ela leva consigo um outro tipo de corpo, geralmente chamado de corpo sutil ou corpo energético. Impresso nesse corpo energético estão todas as memórias da vida, principalmente as impressões de trauma. De fato, todos os estados psicológicos e emocionais, assim como as memórias físicas, estão de alguma maneira impressos nessa "capa energética" e é isso que é transmitido após a morte. Por isso, os tibetanos enfatizam a importância de uma morte clara, i.e. de morrer em um estado mental aberto e, o tanto quanto possível, liberar e abandonar todos os sentimentos ruins que tinham se acumulado até o fim daquela vida. Isso é muito fácil se você estiver em um monastério ou morrendo calmamente com bons amigos ao seu redor capazes de fazer isso, mas, quando olhamos para a história humana, vemos que grande parte dela, pelo menos nos últimos cinco mil anos, tem estado repleta de guerras e desastres. Milhões de almas não morreram de forma pacífica, o que significa que, do ponto de vista tibetano, as memórias residuais de violência, tragédia e perda, impressas no corpo sutil, são transmitidas através do processo de nascimento para se tornarem nossa herança física e psíquica, ou karma.


Nos últimos quinze anos desenvolvemos, no trabalho de regressão, um quadro muito amplo e complexo dos vários estados de cura e liberação que podem ocorrer nessa consciência pós morte e que podem levar a profundas mudanças nas vidas dos indivíduos hoje.


Alguma vezes a alma experimenta estados de autopunição por ter feito coisas das quais se envergonhava. Tais almas sentem que merecem sofrer e se colocam numa auto prisão psíquica - elas dirão: "estou num espaço escuro"; "estou completamente só e mereço ficar aqui porque fiz coisas horríveis." Há paralelos na literatura tibetana onde locais infernais são locais de deliberada autopunição. Pode-se passar o que parece ser um tempo muito longo nestes locais mas, eventualmente, algum tipo de penitência ocorre. Reconhecer como elas se punem pode trazer consciência e luz à situação, ajudando essas almas a seguirem adiante.


Quando há um guia ou terapeuta acompanhando o espírito viajante, podemos decidir ir para um determinado local intencionalmente, padrões podem ser quebrados simplesmente ao se formular certas perguntas ou ao se invocar a presença de sábios ou anciões. Os planos inferiores tendem a ser áreas de bloqueio. O inferno circular de Dante se encaixa exatamente nesse padrão. Os tibetanos falam de como o corpo mental fica preso em seus próprios padrões - "é tudo minha culpa"; "eu não deveria ter feito isso"; "eu mereço sofrer". O corpo mental no mundo espiritual, ou bardo, se move muito mais rápido, motivo pelo qual o trabalho mais difícil é, em geral, libertar-se dos padrões compulsivos e obsessivos tais como culpa ou insegurança sobre si.


Em geral, existem ajudantes e guias nos reinos espirituais que podem aparecer, bastante espontaneamente, quando um trabalho profundo está sendo feito. É como se o experienciador, ao se abrir para os significados mais profundos de sua história, chamasse e se abrisse a essas forças superiores. Às vezes, os guias assumem formas animais em momentos em que a cura física faz-se necessária. Estes seguem todos os padrões que conhecemos dos índios nativos americanos e dos animais totêmicos. Conselhos muito úteis e sutis são dados.



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