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![]() As Memórias do Nascimento Muito frequentemente, a situação ideal de um nascimento não se dá, e a criança é obrigada a contar com os próprios meios de que dispõe nessa situação difícil e perigosa. As circunstâncias que envolvem o nascimento podem assemelhar-se a um grave acidente num lugar distante onde, independentemente da ansiedade e do cansaço físico, a pessoa tem de salvar a si própria. Ainda que a pessoa fosse um médico com treinamento especial na área de sobrevivência na selva e com muita fé religiosa, essa experiência inevitavelmente levaria às marcas de um trauma. Para a criança sem experiência, as circunstâncias que envolvem o nascimento significam que ela deve mobilizar todos os seus recursos. As impressões que isso deixa na criança agem como um grave choque sobre o sistema nervoso e o cérebro, e pode levar a uma tensão durante toda a vida no sistema. O bloqueio das impressões pode levar a uma mobilização contínua da energia diretamente mensurável ligada ao cérebro e ao corpo. A psicoterapia tradicional tem enfatizado o trauma psicológico por que passa a criança. O Renascimento e outras terapias profundas têm mostrado, por outro lado, que, no que concerne às memórias do perinatal, são os traumas físicos que têm um impacto maior sobre a psique. Um nascimento fisicamente difícil, uma doença grave, um acidente ou uma operação, constituem uma ameaça maior para a psique do que o fato de a criança ter estado longe da mãe durante o acontecimento. Essas terapias profundas têm mostrado, além disso, que é bem possível experienciar novamente um incidente assim. Quando as experiências do nascimento ou quando experiências físicas traumáticas são revitalizadas numa sessão de respiração, elas por vezes causam reações corporais dramáticas, que variam desde a falta de ar aguda até agudas dores em diversas regiões do corpo, ou até a paralisia. Equimoses e outras marcas sobre o corpo também podem aparecer. Em alguns casos, constatou-se que as equimoses são réplicas reais das marcas do trauma original. Os sintomas e as marcas comumente permanecem até pouco depois da sessão de respiração, mas podem, em alguns casos, ser visíveis durante um período de tempo maior. As mesmas reações podem ocorrer durante certo período de sessões de respiração, até que toda a experiência seja integrada. Se o nascimento foi muito doloroso fisicamente, as memórias podem aflorar como lembretes constantes na forma de um funcionamento inadequado de certos órgãos ou sistemas. Uma memória comum que muitas pessoas têm é a da falta de ar. Se o cordão umbilical foi cortado muito cedo, antes que os pulmões fossem capazes de se expandir aos poucos, respirar pela primeira vez pode ser muito doloroso. Quando o cordão umbilical — a linha da vida original por meio de que toda "respiração" ocorre — é avariado, a criancinha experimenta uma sensação de sufocamento, que é muito traumática. Para sobreviver, ela deve respirar, mas por vezes a criança, em pânico, se sente obrigada a se valer dos pulmões demasiado rápido ou excessivamente. A respiração, portanto, provavelmente estará sempre ligada à experiência da dor e às experiências próximas da morte. A memória dessa primeira respiração pode levar a um enrijecimento dos músculos respiratórios ao longo de toda a vida. A não ser que essa memória seja liberada, ela sempre impedirá que a respiração seja totalmente relaxada. Janov (1982) dá muitos exemplos das reações duradouras no sistema nervoso transmitidas por diversos tipos de nascimento. Um nascimento demorado, diz ele, não raro leva a uma reação do sistema simpático na criança. Se, em decorrência do seu trauma, a mãe não está em sintonia com os sinais hormonais da criança, ou se está tensa demais para estar aberta a eles, a criança achará o seu caminho através do canal do nascimento penoso e longo. A reação parassimpática frequentemente se liga a uma experiência próxima da morte, tal como o nascimento quando a criança está sentada no útero, quando o cordão umbilical pode estrangular a criança ou quando a mãe se acha totalmente sedada por meio de drogas durante o parto. A criança pode ter necessitado de estímulos para dar início à respiração e às funções do corpo. A reação parassimpática ocorre num nível energético baixo, e dá origem a uma criança por vezes calma, que nada exige, passiva, que raramente chora. Essa criança costuma ser estimada pelos pais e pêlos outros adultos, de vez que poucos compreendem que o seu "bom comportamento" pode ser causado pelo trauma do nascimento que ainda exerce um impacto assoberbante e um efeito tranquilizador sobre a criança. Quando se torna adulta, a pessoa parassimpática é muitas vezes zelosa, passiva, pessimista, conservadora e apresenta baixa auto-estima. Essa pessoa muitas vezes se queixa do futuro sem compreender que isso é causado pelas memórias do passado. A memória de um trauma do nascimento é amiúde expressa posteriormente nos padrões do comportamento que refletem o nascimento: uma tendência para sempre estar atrasado ou para chegar antes do horário, para evitar ir para cama à noite ou para sair da cama de manhã, para protelar as decisões, ou a incapacidade de tomar decisões. Para essas pessoas, acontecimentos simples do cotidiano tais como, por exemplo, o engarrafamento no tráfego, podem forçá-las a arriscarem as próprias vidas, bem como a dos outros, guiando perigosamente, a fim de se livrarem da sensação de estarem presas. O barulho excessivo, a música alta ou o total silêncio podem até mesmo fazer com que essas pessoas se sintam tensas. Infelizmente, essa conduta frequentemente é perdoada como algo que faz parte da personalidade da pessoa, e raramente é relacionada com sua provável origem. S. Grof (1988) também dá muitos exemplos dos diversos efeitos do nascimento sobre o comportamento humano dos adultos. Uma criança que nasceu com a ajuda do fórceps por vezes tende a ser animada inicialmente nas situações corriqueiras, porém, posteriormente, depende dos outros para a fase final dessas situações, que envolvem algum tipo de realização. Uma criança que nasceu sob a influência de anestésicos pode passar por complicações quanto a mobilizar a energia para dar início a novos projetos na vida, e com frequência perde a concentração nas tarefas que empreende. Se o nascimento é provocado, um adulto pode não gostar de ser “forçado a se envolver com determinadas situações” prematuramente. Os padrões relacionados com os nascimentos por meio de cesariana podem verdadeiramente ser divididos em operações planejadas e em operações de emergência. Uma operação planejada é significativa porque toda a fase que envolve a luta para se abandonar o útero é evitada, o que deixa uma memória do nascimento totalmente isenta de traumas. No caso de uma operação de emergência, a criança passou por uma intensa luta contra a morte, e por vezes fica com lembranças mais chocantes do que é habitual, e tenderá a agir de modo exagerado e inexplicável em certas situações. Numa fase secundária, as memórias do nascimento podem levar concebivelmente à asma, a uma tosse constante, a certa pressão na cabeça ou nos ombros, a complicações estomacais, a palpitações, a cansaço crônico, à tontura e à náusea. A síndrome pré-menstrual também pode estar relacionada com as mudanças cíclicas de hormônios estimuladas pelas memórias do nascimento; a ansiedade intensificada, a irritabilidade, a depressão e a raiva, etc., são sintomas e reminiscências da série de emoções no nascimento. Gunnel Minett | Voltar | ![]() |
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